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Medicina Personalizada: você é único, singular por Gisele Késsia

Será mesmo que a prática da medicina sempre foi personalizada?

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Talvez o seja no que tange ao diagnóstico, mas na hora de decidir se o tratamento prescrito respeitará as crenças, culturas, preferências, necessidades sócio-econômicas, tenho minhas dúvidas.

No livro Medicina do amanhã, o Dr. Pedro Schestatsky nos traz a fala do professor norte americano de genética da Universidade de Stanford (Estados Unidos) Michael Snyder no livro Genomics & personalized medicine: what everyone needs know (em português, Genômica e Medicina Personalizada: o que todo mundo precisa saber), o uso de informações pessoais, incluindo histórico médico e familiar, exames físicos e laboratoriais para determinar o diagnóstico e tratamento de diversas doenças não é exatamente novidade.

Segundo o autor, estamos entrando na Era da Big Data, como você já deve ter ouvido falar, o termo refere-se ao armazenamento de imensa quantidade de dados, além da capacidade de sacar conclusões dessas informações com rapidez. Hoje através dos smartwatchs e smartphones temos informações armazenadas a nosso respeito que algum tempo atrás não ousaríamos imaginar: Quantidade de passos percorridos, frequência dos batimentos cardíacos, pressão arterial, bioimpedância, tempo e qualidade do sono entre outras coisas, hoje estão na palma da nossa mão, ou no nosso pulso.

Interpretação de dados e exames médicos laboratoriais que se limitavam a estabelecer a normalidade em valores de referências passarão a ter uma especificidade maior na condução do diagnóstico e estabelecimento de tratamentos precoces.

A expectativa é de que em um futuro próximo, os dados individuais sejam utilizados para guiar o paciente em suas decisões de saúde (Medicina baseada em dados reais), o que até então era feito apenas por meio de pesquisas e evidências extraídas de grandes populações. Além de orientá-lo também em outros aspectos do dia a dia, que vão desde a alimentação e atividade física, até práticas mais contemplativas, como meditação, oração ou respiração direcionada. Para Snyder, essas informações podem até mesmo influenciar escolhas profissionais ou de estilo de vida do paciente.

Testes genéticos cada vez mais acessíveis nos permitem conhecer riscos herdados que sequer imaginamos.

Imagine que o sequenciamento genético de uma pessoa mostre que ela tem risco de desenvolver a doença de Parkinson. Como o problema está relacionado a pesticidas e traumatismos cranianos repetidos, ela poderia evitar profissões que envolvessem exposição a pesticidas ou esportes de contato.

Ou ainda, imagine uma jovem mulher onde o sequenciamento genético mostre que tem chances de desenvolver o melasma. Uma brasileira que recebe a proposta de trabalho em uma região mais fria ou quente do país poderá tomar a decisão de escolher onde se estabelecer geograficamente para não ativar o melasma. Ou ainda, evitar profissões de Chef de Cozinha ou cabeleireira já que o melasma é ativado também por fontes de calor artificiais.

Nosso aplicativo DocHealth está construindo uma plataforma onde seja possível usuários armazenarem suas informações de saúde e realizarem o gerenciamento de sua saúde através dela, por hora é possível armazenar exames, histórico médico familiar, lembretes de saúde e medidas. Nosso roadmap está caminhando para entregar também pré-diagnósticos e direcionamentos pró-ativos e preventivos para auxiliar na manutenção da saúde e qualidade de vida.

Voltando à provocativa pergunta do início deste texto, acredito que ainda temos muito o que avançar sobre medicina personalizada, há infinitas possibilidades.

A personalização no tratamento da doença talvez seja uma constante, mas a personalização na construção da saúde, acho que ainda existe um caminho longo a ser percorrido.

Mulheres com SOP (Síndrome dos Ovários Policísticos) por exemplo, serão direcionadas em sua maioria a realizar um mesmo tratamento para o problema. Mas assim como, para se chegar em um destino de viagem não existe um único caminho, mas vários, tratamentos de saúde precisam respeitar as singularidades, não devem ser prescritos tratamentos apenas porque são os mais conhecidos, ou explorados, ou ainda os mais curtos ou mais baratos.

Existem tantas nuances entre os seres humanos. No que tange ao DNA uma pessoa é 99,9% idêntica a outra qualquer, mas do ponto de vista intestinal, estima-se que as pessoas compartilhem apenas 10% de semelhança umas com as outras, ou seja, é nosso intestino que nos torna verdadeiramente únicos.

O Dr. Pedro traz em seu livro temas incríveis, te convido à leitura: Um órgão injustamente esquecido, transplante fecal e batismo vaginal são alguns deles. Todos esses temas te levarão à uma reflexão mais profunda sobre a medicina personalizada e provocarão o seu mindset.

Quando leio um livro como este é que a célebre frase de Sócrates faz ainda mais sentido:

Só sei que nada sei!

Leiam também o nosso texto: Construindo a medicina do futuro

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